A gravidade, a dança e as suas mortes
A perpendicularidade é uma propriedade comum em tudo que nos rodeia. O Ser perpendicular é uma forma de equilíbrio perante a gravidade, talvez a única sustentável, com vida. Mas o que seria do acrobata sem o desiquilíbrio? Quem lhe daria valor?
Tal como a vida só pode ser com a morte, a dança sem a gravidade deixa de o ser. Por isso, as danças suspensas nada mais são (e já não é pouco), que um travo de morte da própria dança, onde o movimento se desfaz numa intenção sem enredo, onde o leitor recorre-se das suas memórias para fazer uma trama, transportando-se para um segundo ou quinto plano, alienando-se do espectáculo que vê, imergindo-se nos sons da concha do mar, mergulhando rumo aos seus céus, emergindo, por fim, nos aplausos dos outros.
É quase um concerto de música clássica, não é?
Mas não era para ser dança contemporânea?
Ah dança contemporânea... quanto mais te afastas do teatro e do texto mais clássica tu és! Ainda hás-de vestir tutus florescentes para te fingires moderna, porque contemporânea é palavra que te queima a boca, pois já eras para o ter sido.