quinta-feira, junho 30, 2005

A gravidade, a dança e as suas mortes

A perpendicularidade é uma propriedade comum em tudo que nos rodeia. O Ser perpendicular é uma forma de equilíbrio perante a gravidade, talvez a única sustentável, com vida. Mas o que seria do acrobata sem o desiquilíbrio? Quem lhe daria valor?

Tal como a vida só pode ser com a morte, a dança sem a gravidade deixa de o ser. Por isso, as danças suspensas nada mais são (e já não é pouco), que um travo de morte da própria dança, onde o movimento se desfaz numa intenção sem enredo, onde o leitor recorre-se das suas memórias para fazer uma trama, transportando-se para um segundo ou quinto plano, alienando-se do espectáculo que vê, imergindo-se nos sons da concha do mar, mergulhando rumo aos seus céus, emergindo, por fim, nos aplausos dos outros.

É quase um concerto de música clássica, não é?
Mas não era para ser dança contemporânea?

Ah dança contemporânea... quanto mais te afastas do teatro e do texto mais clássica tu és! Ainda hás-de vestir tutus florescentes para te fingires moderna, porque contemporânea é palavra que te queima a boca, pois já eras para o ter sido.

terça-feira, junho 21, 2005

Reencontro (o que as mulheres me fazem...)

Reencontro.
Reencontro-te como combinado...
mistura de sons e sensações.
Prazeres
ardores mútuos,
permanecem como tela
de uma pintura a óleo,
que nunca se cansa de não secar...
sempre pronta a moldar-se,
por si
para si, em evolução.
Para mim, contemplação.

Tu.
Musa dos Mais.
Tusa dos demais.

De olhos in vitro espelhas a mais límpida das noites.
Nítida noite. Fria para os demais...

"–Que me queres?"
"–Quero-te!"
"– ... eu também!"

Recorremos, ali, à memória,
que pode perdoar, mas nunca esquecer,
toldando-nos de festas,
frestas de feliz ser,
lembrando-nos,
em uníssono,
o ser uno que fomos por breves instantes.
O rodopio. As investidas suspensas... as contradanças cantadas.

À memória do limbo vivido junta-se a vivência do agora.

O silêncio instala-se, sabiamente.

Por Luz difusa
nossos destinos entrelaçam-se,
saborosamente,
agora.

Demoramos os nossos passos.

Como quem brinca
com o tempo e espaço,
bradamos ao vento
uma máquina do tempo,
por forma a devorarmo-nos
com mais alento,
nos meandros dos faunos que fomos.

"– Somos hoje, o que interrompemos ontem..."
"– Somos já, se quiseres no amanhã..."

A realidade caiu sobre nós.
O tempo, como copo entornado num canto da vida.

" – Apaguemos a ausência! Vivamos a existência!" - disseste.

Decantado o mote,
desenlaçamos o passado ausente
como presente maldito,
delegando na lua
a tecelagem,
a prata,
dos uivos de sermos unos de novo.

"– O futuro a lua tece, enaltece, permanece, logo é imortal!"

segunda-feira, junho 20, 2005

Justificação...

Por ter sido a Manuela a pedir que desculpas ( Desculpem! Não queria ter escrito o que escrevi anteriormente aqui.Em contin�ncias) por ter colocado um post no blog errado, tomei a liberdade de o apagar.

A gerência agradece o empenho dos seus clientes, em tornar este blog no menos visitado e comentado de sempre.

terça-feira, junho 14, 2005

Post Mortem

A Agustina Bessa Luis disse: " a sua morte pouco importa, pois a obra dele para sempre ficará".
No entanto, fica sempre o vazio de quem sempre prometeu ser imortal. Eugénio de Andrade há muito que tinha cristalizado o tempo no verso, não lhe dando espaço para corroer fosse o que fosse, e torna-se diícil, pelo menos para mim, perceber como um artesão não consegue servir-se do seu próprio artifício...
No dia da sua morte, segundo a rádio, ele escreveu: "Numa manhã de Junho me vou." Não sei se a frase já estava escrita, faltando apenas o nome do mês, mas a mensagem é clara: fazer ver que se tem a consiência que a morte anuncia-se. Será o epílogo do "Branco no branco"?

Há uma música que canta que só Deus tem quem mais ama... eu penso que ninguém tem quem mais ama.

Abraço poeta! Vêmo-nos por entre os dedos dos teus versos!

sexta-feira, junho 03, 2005

A Diferença do Tempo

Ontem, depois de um espectáculo de marionetas japonesas é que descobri a diferença entre o oriente e o ocidente. A diferença mora no tempo.

Nós, contamos o tempo;
Eles descontam.

Só assim se pode compreender o espectáculo de ontem.... tenho a ligeira impressão que um terço da plateia fugiu no intervalo....