quinta-feira, junho 30, 2005

A gravidade, a dança e as suas mortes

A perpendicularidade é uma propriedade comum em tudo que nos rodeia. O Ser perpendicular é uma forma de equilíbrio perante a gravidade, talvez a única sustentável, com vida. Mas o que seria do acrobata sem o desiquilíbrio? Quem lhe daria valor?

Tal como a vida só pode ser com a morte, a dança sem a gravidade deixa de o ser. Por isso, as danças suspensas nada mais são (e já não é pouco), que um travo de morte da própria dança, onde o movimento se desfaz numa intenção sem enredo, onde o leitor recorre-se das suas memórias para fazer uma trama, transportando-se para um segundo ou quinto plano, alienando-se do espectáculo que vê, imergindo-se nos sons da concha do mar, mergulhando rumo aos seus céus, emergindo, por fim, nos aplausos dos outros.

É quase um concerto de música clássica, não é?
Mas não era para ser dança contemporânea?

Ah dança contemporânea... quanto mais te afastas do teatro e do texto mais clássica tu és! Ainda hás-de vestir tutus florescentes para te fingires moderna, porque contemporânea é palavra que te queima a boca, pois já eras para o ter sido.

1 Comments:

At 3:51 da tarde, Anonymous Anónimo said...

por paradoxal que possa parecer, a máxima gravidade na dança ocorre quando o/a executante se torna (des)momentaneamente aéreo/a, isto é, quando se instala a gravidade zero numa determinada fracção de tempo superior àquela que normalmente é admissível nas gravidades comuns ou intermédias.

Abraço

 

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