quarta-feira, abril 06, 2005

Os Samurais

Os nossos olhares encontraram-se, pela primeira vez, num acaso.
Naquele instante, tudo parou... o tempo, o espaço era só aquele que distanciava os nossos olhares... e num murmúrio, anunciávamos os nossos nomes um ao outro, como ventríloquos... chegamos à sensação, que tal coisa não tinha importância.... tudo se centrava no espaço entre os nossos olhos, e não no som pelo qual a memória nos fazia mover.... como dois samurais... um à espera do movimento do outro... cada um ansiando pelo movimento do outro.... nós, os dois, em duelo mortal... os dois em defesa, pela memória... os dois à espera da faúlha que nos iria incendiar, em silêncio... e todo o espaço soturno existente entre os nossos olhares transfigurava-se em campo aberto, num vale verdejante.... entre nós, penduravam-se gotas de orvalho nos inúmeros ramos castanhos negros, que gritavam mudos para o céu e ao vento, pertencentes a uma árvore entroncada pelo tempo, com rugas e raízes salientes, e no entanto, nua... pura.

Sentíamos o vento desse vale na boca....

Gretavam os lábios de tanta sede... queria beber-nos; tragar a sede, travar a dor do cieiro de uma eternidade....

E ali permanecíamos... um a tentar degolar o outro... bastava um ameaçar de toque, e anunciávamos o fogo de Roma, aos oito ventos... tensos, movimentávamos no espaço dos demais... a aproximação pela música deu-se... de costas te puseste, mostrando o pescoço... entre o beijar e morder, um ápice... mas vi que era manha... resisti.

Teus olhos lançam a chance de um lance de lince... penso, entretanto.


Surpreendendo-me com os teus laivos de sereia, quando soltaste uivos da tua harpa....

Quis tentar ser Homero, mas senti que mesmo o mais destemido marinheiro acredita na sua âncora....
....e tudo ficou por fazer (mais uma vez).

2 Comments:

At 5:29 da tarde, Blogger J. Vilas Maia said...

Obrigado pelo elogio!
É dificil dançar uma valsa sem olhar a parceira... penso que foi por existir essa regra, que nasceu o tango...

 
At 2:21 da manhã, Blogger Mafi Brown said...

Queria dizer-te coisas João, mas estou muito parca de palavras depois de ter lido o teu texto. São momentos sem tempo que marcam e ficam gravados, capazes de perdurar para sempre.
Obrigada por este momento delicioso...

 

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