quinta-feira, abril 28, 2005

Impressões...

Na terra onde se trocam os -v's pelos b's,

ver é (quase) beijar!

quarta-feira, abril 27, 2005

Lembro-me, mas também recordo...

Lembro-me de quando voávamos como condores.
Lembro-me de crer ser maior contigo, também...
os dois, como alados, conquistando espaço e respeito por todos concedido.
Lembro-me de sermos dados como casal,
de casa pantufa com filhos e cão...

Lembro-me de sermos, em hipótese, um casal, em Lisboa, vivendo para o trabalho.
Lembro-me de ver o meu curso por um canudo, mais apertado...
uma paixão por mim, na altura, menosprezada.

Recordo a falência daquilo que construi, nas núvens.
Recordo a vida que depositava em ti.
Recordo os sonhos que não me permiti ter...
Recordo, ainda, as vezes que indagava por mim...

Recordo os silêncios que tu sentiste, também.
Recordo a solidão que senti.
Recordo, o ouro que colhi dos nossos anos...

Recordo crer ser o que não sou hoje.
Recordo o meu renascimento...


o trespassar dos limites dados como concebidos...


Afinal, voávamos baixo, amor!

(2002)

quarta-feira, abril 06, 2005

Os Samurais

Os nossos olhares encontraram-se, pela primeira vez, num acaso.
Naquele instante, tudo parou... o tempo, o espaço era só aquele que distanciava os nossos olhares... e num murmúrio, anunciávamos os nossos nomes um ao outro, como ventríloquos... chegamos à sensação, que tal coisa não tinha importância.... tudo se centrava no espaço entre os nossos olhos, e não no som pelo qual a memória nos fazia mover.... como dois samurais... um à espera do movimento do outro... cada um ansiando pelo movimento do outro.... nós, os dois, em duelo mortal... os dois em defesa, pela memória... os dois à espera da faúlha que nos iria incendiar, em silêncio... e todo o espaço soturno existente entre os nossos olhares transfigurava-se em campo aberto, num vale verdejante.... entre nós, penduravam-se gotas de orvalho nos inúmeros ramos castanhos negros, que gritavam mudos para o céu e ao vento, pertencentes a uma árvore entroncada pelo tempo, com rugas e raízes salientes, e no entanto, nua... pura.

Sentíamos o vento desse vale na boca....

Gretavam os lábios de tanta sede... queria beber-nos; tragar a sede, travar a dor do cieiro de uma eternidade....

E ali permanecíamos... um a tentar degolar o outro... bastava um ameaçar de toque, e anunciávamos o fogo de Roma, aos oito ventos... tensos, movimentávamos no espaço dos demais... a aproximação pela música deu-se... de costas te puseste, mostrando o pescoço... entre o beijar e morder, um ápice... mas vi que era manha... resisti.

Teus olhos lançam a chance de um lance de lince... penso, entretanto.


Surpreendendo-me com os teus laivos de sereia, quando soltaste uivos da tua harpa....

Quis tentar ser Homero, mas senti que mesmo o mais destemido marinheiro acredita na sua âncora....
....e tudo ficou por fazer (mais uma vez).