Lembro-me de quando voávamos como condores.
Lembro-me de crer ser maior contigo, também...
os dois, como alados, conquistando espaço e respeito por todos concedido.
Lembro-me de sermos dados como casal,
de casa pantufa com filhos e cão...
Lembro-me de sermos, em hipótese, um casal, em Lisboa, vivendo para o trabalho.
Lembro-me de ver o meu curso por um canudo, mais apertado...
uma paixão por mim, na altura, menosprezada.
Recordo a falência daquilo que construi, nas núvens.
Recordo a vida que depositava em ti.
Recordo os sonhos que não me permiti ter...
Recordo, ainda, as vezes que indagava por mim...
Recordo os silêncios que tu sentiste, também.
Recordo a solidão que senti.
Recordo, o ouro que colhi dos nossos anos...
Recordo crer ser o que não sou hoje.
Recordo o meu renascimento...
o trespassar dos limites dados como concebidos...
Afinal, voávamos baixo, amor!
(2002)