quinta-feira, agosto 31, 2006

Platina ou cortiça?




- Almejo-te com a própria vida! – gritava o cavaleiro de esporas de rolha.

Não terá tanto valor quanto um de sanguinárias esporas de platina, ou será que a quantidade de sangue confere solidez ao seu intento?

Nota: A qualidade das de rolha era boa: não sangravam, faziam permanecer o toque na pele e a tenção era total.

terça-feira, agosto 29, 2006

Angústia vitoriosa?


“O psicótico vive no temor da queda (pelo que as várias psicoses não seriam senão defesas). Mas o receio clinico de uma queda, é o receio de uma queda que já se experimentou (primitive agony) […] e há momentos em que um paciente sente a necessidade de lhe dizerem que a queda, que ele tanto teme e que lhe mina a vida, já se verificou. O mesmo se passa, parece, com a angústia de amor: é o receio de uma perda que já se verificou, desde a origem do amor, desde o momento em que eu estava em êxtase. Era preciso que alguém me pudesse dizer: «Não esteja angustiado, você já a perdeu».”

Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso


A perda, como perda que é, não tem valor nem quantitativo nem emocional, para quem já perdeu.
Assim, a opção pela perda é uma dor menor (porque já conhecida) do que o êxtase da vitória, o extravasar, incomensurável à própria vida (porque ainda desconhecidas).
Haverá medo da vitória desconhecida?
Haverá perdas iludidas?


Haverá… desvias-te…?
­- bang! impacto angélico – e a vitória não era noutra direcção.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Retorno do desejo




Quando era pequeno, tinha como desejo uma bateria. Pedi docemente uma vez; e como era educado, não pedi mais.

Não era desejo suficiente, por não ter sido insistente, chato, medíocre?!

É por essas e por outras do género que não peço nada mais; avanço e conquisto, olho no olho dente no dente, em investida feroz, pela sociedade e pelo amor dentro…


Mas, o hoje chega.

Quero pedir-te;
tu quereres-me,
e a mim, tu dares-te.

sábado, agosto 19, 2006

Tempo com hemorragia


"Porque me queres ver amanhã, se o teu querer não é desejo?

Por ti, gostavas de mim amanhã…

Mas eu cria em ti hoje… e ontem.

“Heaven can not wait forever…” – Fiona Apple, The First Taste.

Quando começamos a nítida caça mútua?"


extracto do diário íntimo de um fauno desconhecido

quarta-feira, agosto 16, 2006

Sebastianismo amoroso


A inclusão do erro, como parte integrante da vida de cada um, tem de ser assumido como a forma normal de evolução da arte. Porque a arte não é de facto vida mas fragmentos da mesma, e como tal, não pode ou não deve ser sempre perfeita.

A obra de arte é uma criatura. Como tal, tem vida própria. Por isso, camba e cambia de modos, quer por força do tempo, quer por força de quem a lê, contemporaneamente.

Assim, como não podemos nós mudar de amores?

quarta-feira, agosto 09, 2006

Esvair, Lagos



Quando a combustão é lenta, é o mesmo que dizer que o ar rareia.
No amor, como em todos os fenómenos, são precisos todos os elementos para o serem.

Há amores raros?
Há combinações para sempre síncronas?
Há combinações por ou para serem sempre síncronas?

Há combinações.

Acredito que não tenho par; e duvido, por isso, de todos os meus sentimentos.

terça-feira, agosto 01, 2006

A Natalidade do Beijo


"Sabes que és das mais belas mulheres que conheci.

Mas não são só os teus olhos que me chamam;

Não são só os teus seios que me saciam;

Mas não são só as tuas pernas torneadas que me fazem andar;

Não é apenas a tua boca que me faz falar…

Mas também tu, que deténs o meu primeiro beijo."

extracto do diário íntimo de um fauno desconhecido