quinta-feira, setembro 21, 2006

Sobre ombro esquerdo


Nesta fuga desenfreada espaço-tempo fora, deixo devolutos, todos os fantasmas a quem lhes emprestava corpo e dava ardis. É difícil abandonar rotinas de pensamentos convulsos, cujos mecanismos são por demais conhecidos, que me vinham entretendo no caminho de idas e voltas, pois facilmente se pegava o fio à meada, reinventando-me no passado, com outra memória, com sentimentos requentados.

O pensamento obsessivo é um passatempo para não se pensar em nada de, realmente, novo.

Pensa-se e pensa-se numa outra perspectiva, do mesmo facto, da mesma vivência, como tudo ficasse resolvido nesse prisma chave, tal como na busca do Porquê dos porquês.

Aprendi – até há pouco – que nem tudo se consegue controlar, nem tudo tem porquês, e não há culpa não se ser sempre coerente.

Somos feitos de mudança e nunca um verso neo-realista teve tanta insinuação…

Os acasos, que um determinado acontecimento o fazem emergir, são impossíveis de serem totalmente controlados por nós… para os crentes, seria ser Deus. E mesmo que fossem, não seria por ter todas as explicações que viveríamos de fora do nosso passado; apenas ficaríamos com aquele travo na boca: há foi por isto que… Ah bom, ok!, o que é parco para quem deposita fé na resolução do problema passado, como via de viver os do presente, talvez, de forma inovadora.

Há coisas que aconteceram e eu sou resultado disso; e ainda bem.

Porém, porque hei-de ser sempre dessa rés, também?! Não me posso improvisar, aqui, no presente?

Quero perder o passado prolixo, largar pesos mortos, trazer os sobreviventes debaixo do abraço e viver aqui, agora, hoje… livre, sem dedos apontando para trás do ombro direito, enquanto desvio o olhar sobre o esquerdo…

3 Comments:

At 4:52 da tarde, Blogger I said...

Estava eu pronta para dizer "E mai' nada...." quando cheguei ao penúltimo parágrafo. Oh Homem, improvisa à vontade! Olha faz de conta que isto é uma peça de teatro e que chegaste a um ponto que só te lembras da última frase que já disseste, tudo para a frente é um "branco" total: safa-te, improvisa...afinal de nada te valeria estares a pensar nessa frase ou nas anteriores. E o que está a incomodar-te por cima dos ombros ou nas tuas costas, sacode...

 
At 12:41 da tarde, Anonymous Anónimo said...

As unicas coisas que vivem de passado com exito... São os museus... Beijo enorme!

 
At 3:33 da tarde, Anonymous Anónimo said...

maria...gostei muito dessa!!!! e atrevo-me a acrescentar que nem mesmo todos os museus sobrevivem com êxito!

mar...

 

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